O reconhecimento foi divulgado nesta quinta-feira, pelo INPI ao publicar, na Revista da Propriedade Industrial (RPI), o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP), para a Comunidade da Alegria, localizada na área rural do município de Ipu (CE), como produtora de peças de cerâmica.
Com essa concessão, o INPI chega a 142 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 103 IPs (todas nacionais) e 39 Denominações de Origem – DOs (29 nacionais e 10 estrangeiras).
Com base na documentação apresentada pela Associação dos Artesãos da Alegria, orientada pelo Sebrae/CE, a Comunidade da Alegria demonstrou ter se tornado conhecida pela fabricação de cerâmica. Foram apresentados matérias de jornais, revistas e sítios eletrônicos, incluindo redes sociais; trabalhos acadêmicos; fontes iconográficas (fotos); transcrição de entrevistas orais; fontes audiovisuais (vídeos e entrevistas).
Embora não existam informações quanto ao ano de fundação da Comunidade da Alegria, há relatos de sua origem remontar aos tempos iniciais da colonização na região de Ipu. Desde então, Alegria já se destacava pela produção de cerâmica, com fins de atendimento às demandas comerciais ou para fabricação de utensílios domésticos, tanto às casas-grandes como para residências de menor poder aquisitivo.
A técnica local de produção das peças de cerâmica é remanescente da tradição indígena Tabajara. Os Tabajaras, habitantes originários da região, já trabalhavam o barro antes de os europeus aportarem em terras brasileiras. Inicialmente, a cerâmica produzida por eles visava à confecção de urnas para enterrar seus mortos e conservar as cinzas de seus familiares. Com o tempo e o processo de colonização, outras demandas surgiram e as peças de cerâmica passaram a ser construídas para outros fins, como armazenamento de água potável e produção de utensílios domésticos, entre outros usos.
Boa parte da técnica tradicional perdura até os dias atuais: as mulheres levantam as peças usando o cordel, que é o modo mais rudimentar de todos. Aos homens é destinada a tarefa de ir colher o barro nas minas de argila e de fazer a queima no forno. Atualmente, os itens são produzidos de acordo com as demandas dos clientes e podem variar entre panelas, bandejas, jarras, artefatos usados para decoração de casas e vias públicas, entre outros. Os produtos são comercializados por várias partes do Brasil.
As peças, com o passar do tempo, foram sendo trabalhadas com detalhes mais inovadores, renovadas nas pinturas, no bordar das peças e na variedade de artefatos realizados. Mas, apesar da introdução de novas técnicas e inovações decorativas, a maioria das atuais ceramistas, conhecidas como oleiras, aprenderam a arte de moldar a cerâmica com as artesãs de geração anterior.
Essas artesãs se esmeram em construir peças e artefatos resistentes, a altas temperaturas, e que preservem características dos descendentes dos povos originários do Brasil, potencializando sobre essas obras um valor não apenas econômico, mas de toda uma tradição que remonta aos séculos XVII e XVIII. O trabalho realizado coletivamente pelas ceramistas levou à fundação de uma Associação no ano de 1997, envolvidas no beneficiamento do barro e na produção e comercialização das peças de cerâmica da Alegria.
De vastas águas e terras em abundância, de onde as oleiras retiram seu sustento na feitura de cerâmica, Alegria tem se tornado exportadora da cultura do barro e se destacado pelo seu potencial produtivo na região e em todo o Brasil. A cerâmica da Alegria segue viva e forte nas culturas cearense e brasileira, levando alegria e tradição a quem adquire as peças únicas produzidas no local.