O afroempreendedorismo é um movimento transformador que reconstrói narrativas culturais, políticas e socioeconômicas e desafia preconceitos em relação aos povos negros. Preconceitos decorrentes da discriminação e desigualdade seculares conhecidos por racismo que se firmam na ideia de uma raça superior a outra, que se manifestam desde micro agressões cotidianas até às formas mais visíveis de racismo institucional.
Esse movimento almeja o sucesso empresarial, mas também criar impacto social, promover a igualdade e alterar os rumos da dinâmica econômica. Essencialmente, transcende o mero empenho de iniciar e gerir um negócio. Carrega consigo uma carga poderosa de significado e propósito, impulsionado pela determinação de afrodescendentes que desejam, para além de alcançar o êxito comercial, redefinir as circunstâncias socioeconômicas que os circundam.
Cada negócio criado por um empreendedor afrodescendente tem o potencial de moldar histórias, de desafiar estereótipos e de influenciar positivamente gerações futuras. De acordo com estudo realizado pelo Sebrae a partir de dados da PNADC do IBGE, relativa ao segundo trimestre de 2022, o Brasil possuía 29,9 milhões de donos de negócios.
Neste universo, 15,9 milhões são de empreendedores negros, número que corresponde a 52% do total de donos de negócios do país. Mas, apesar de serem maioria no Brasil, os empreendedores negros ainda possuem uma média de ganhos cerca de 32% menor do que os donos de negócios brancos. Disparidade esta que se agrava ainda mais quando também incluímos o recorte de gênero.
Em geral, os empreendedores negros e negras também enfrentam mais dificuldades que os brancos quanto a acessar financiamento, educação empreendedora e redes de apoio. O preconceito institucionalizado e os estereótipos negativos criam barreiras significativas no que diz respeito à superação desses desafios.
Se quisermos mudar esta realidade, precisamos aprofundar o debate e também buscar soluções que ajudem a reduzir ou equacionar estas dificuldades. Além das ações de combate à discriminação racial, também é preciso pensar políticas públicas de fomento e de qualificação para os empreendedores negros e negras. Só assim, teremos um país mais justo e solidário.
Joaquim Cartaxo – arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae/CE